23 de outubro de 2015

Resenha: Mundo Cão - Matheus Peleteiro

Título: Mundo Cão
Autor: Matheus Peleteiro
Editora: Novo Século - Talentos da Literatura Brasileira
Páginas: 166
Ano: 2015

Unindo elementos de literatura marginal com sentimentos altruístas, surge Mundo Cão, que narra, em primeira pessoa, a história de Pedro Contino, um jovem que sofre desde cedo por conta das peripécias da vida, e, por mais que busque o melhor, vê, em sua sombra, o caos. Morador da favela Roda Viva, Pedro poderia ter traçado qualquer caminho, mas a vida escolheu um em especial. Mesmo em meio à ausência de recursos, é apresentado à literatura por um vizinho mais velho, e, por conta dela, cria uma importante consciência social. Guiado por músicas e livros, ele logo percebe como tudo funciona. Indigna-se e, amargamente, constata que não tem poder para realizar uma mudança no mundo... O caos já faz parte dele, envolvendo-se com drogas, álcool, e, para completar, com as mais belas e loucas mulheres.
 
O jovem autor Matheus Peleteiro, que lançou esta sua primeira obra aos 19 anos, destaca uma ficção muito semelhante à realidade de grande parte da população brasileira através do protagonista Pedro Contino, a quem nomeou homenageando a Pedro Pondé, vocalista da banda Scambo e Gabriel Contino, mais conhecido como Gabriel o Pensador, utilizando várias referências musicais, nos mais variados estilos, fazendo questão de não apenas se apropriar de suas ideias e inspirações mas as destacando do texto e as explicando no rodapé. (Vale a pena conferir e conhecer as músicas e as bandas se ainda não as conhecer, inclusive, ouvi-las enquanto lê o livro é muito bom!)

O próprio nome da fictícia favela soteropolitana que situa geograficamente a estória narrada em primeira pessoa pelo protagonista é musicalmente sugestiva: Roda Viva – música de Chico Buarque que retrata o círculo vicioso, a roda que não para de girar na vida das pessoas que então se sentem presas à Ditadura militar da época. No entanto esse novo modelo de Roda Viva retrata, numa escrita simples, direta e principalmente fluida, o reflexo de toda favela brasileira, de seu infinito ciclo de crimes e de segregação social e racial.

A influência do gosto pessoal do autor não se detém na seara musical, havendo também referências a séries de televisão americana, filosofia e poesia. O estilo Bukowskiano de conduzir a estória evidencia a paixão do jovem autor pelo escritor alemão, isso quer dizer que a trama se desenvolve sem firulas ou enrolações, torneada em belas pernas femininas, regada a um nível alcoólico embriagante, onde o protagonista só se f... “dá mal”, especialmente quando você acha que ele vai se dar bem.

Pedro Contino, um jovem sem recursos que foi criado pelos avós em uma favela violenta e dominada pelo tráfico, diferentemente de seus colegas que sonham em ser os “donos da boca”, quer alçar outros voos, no entanto, não é otimista ao ponto de se lançar do penhasco. Ao contrário, pelo conhecimento adquirido com os livros que teve o privilégio de ter contato, almeja apenas construir uma vida honestamente vivível: trabalhar, auferir renda, morar dignamente, viver uma paixão e escrever para deixar um legado.

Porém, “o mundo é um cão raivoso prestes a lhe devorar”, e o desfecho mostra as razões pelas quais o cão está faminto e porque é impossível impedir o seu ataque.
“O mundo é um cão raivoso prestes a lhe devorar. E você deve conquistar uma parte dele antes que seja tarde demais e ele tenha lhe engolido por inteiro.”
“Muitas vezes é difícil distinguir o que sai da boca das pessoas do que sai do rabo de um cavalo” 
(Essa é uma das frases de efeito, dentre tantas do livro que te fazem refletir em vários aspectos. Como discordar? Vamos apenas pensar que um bom lugar para sentir o odor característico de uma tropa deles acometidos de uma virose altamente epidêmica é a grande rede mundial de computadores, mais especificamente algumas redes sociais onde se encontra todo tipo de “especialista”: cientistas políticos que jamais leram O Contrato Social ou Marx; economistas que não sabem quem é Simonsen; esportistas, educadores, feministas, nutricionistas e por aí vai... ou vão, vão compartilhando asneiras como se fosse uma brincadeira de telefone-sem-fio.)

Assim, nada mais justo que coroar de jovem TALENTO brasileiro da literatura, o autor desse romance que é apenas pano de fundo a uma verdadeira crítica social que proporciona reflexão e diversão, ao passo que você imagine Hobbes* estapeando Rousseau*.

*Thomas Hobbes, e Jacques Rousseau


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