21 de setembro de 2015

Resenha: Que Fim Levou Juliana Klein?

Título: Que Fim Levou Juliana Klein?
Autor: Marcos Peres
Editora: Galera Record
Páginas: 350
Que Fim Levou Juliana Klein? de Marcos Peres é um romance policial que traz uma estória complexa - aliás a complexidade das tramas parece ser especialidade do autor do premiado Evangelho Segundo Hitler. Editora Record. 2013 - Trata-se de uma história ambientada num universo acadêmico, entre famílias que migraram da Alemanha para o Brasil, num passado recente e culmina em uma série de assassinatos, suicídios e mortes duvidosas envolvendo essas famílias que se odeiam ancestralmente e filosoficamente. Junte-se a este cenário um delegado interiorano desbravando a capital do Paraná para tentar solucionar esses crimes obcecadamente, intercalando apenas com seus momentos de frustação que culminam em cervejas, whisk e rabo de galo.

Antes de mais nada, preciso alertar para o fato de que esta é minha primeira resenha. Poderia ter escolhido algo menos complicado, mas não seria eu, haha.


A trama se inicia com a narração de uma psiquiatra que transcreve memórias e sonhos de uma paciente internada num suposto quarto número 206. [Post-it para esse fato do quarto 206! Meu faro de fã da literatura policial alerta.]

O tempo da narrativa viaja entre os anos de 2005, 2008 e 2011, com alguns flashbacks nas histórias das famílias Alemãs e rivais, Klein e Koch, ao século passado e no antigo continente, mas a escrita primorosa faz com que as transições não sejam caóticas, sem no entanto desmerecer a intenção de bagunçar a mente do leitor.

Embora as diferenças entre os Klein e Koch atuais sejam basicamente acadêmicas [Juliana Klein lecionando filosofia na UFPR e o ´Doutor Professor´ Franz Koch lecionando a mesma matéria na PUC], aos seus ancestrais coube iniciar a inimizade por conta de uma mulher, que despertou a paixão de dois homens: um Koch, que era seu noivo, e um Klein, que nem sabia que a moça era comprometida, e muito menos quem eram os Koch. Nem só de pão vive o homem, muito menos de filosofia, mas necessariamente de amor - sinto muito Nietzsche, Sartre, Platão, Dante Aliguieri e Santo Agostinho [eu disse que era complexo!], mas sem Shakespeare nada faria sentido nessa estória.

Discussões sobre antíteses e paradoxos, sobre predestinação e livre arbítrio, baseadas em Santo Agostinho, Sartre e Nietzsche envolvem a nova rotina do Delegado Irineu, destacado de sua cidade do interior do Paraná para ajudar na investigação de um crime na capital Curitiba, crime este que supostamente estartou uma série de outros assassinatos envolvendo as famílias Klein e Koch.

Irineu é descrito como um charmoso boêmio que acaba se envolvendo nessa história além do que deveria, com isso quero dizer se envolvendo nos braços (pernas) e na cama de uma Klein, o levando a ser passional e até mesmo irresponsável na seara profissional, doentiamente obcecado em solucionar a trama.
"Sinto em meu sangue. Vejo os fantasmas do passado e sei que o futuro tende a repetir - não é preciso ser um Klein ou um Koch para saber isso. Estudei Nietzsche e aprendi duas coisas. A primeira é que o livre-arbítrio é uma falácia, um argumento covarde dos que não conseguem perceber que o mundo, para o bem e para o mal, está escrito no passado. Nietzsche escreveu em uma parábola: 'Esta conversa, os detalhes desta conversa, o que somos, o que fazemos, tudo já foi feito.' A história é finita e cíclica. O fim gera um novo começo. E se o passado inevitavelmente se repete no futuro, devemos compreender, portanto, que o livre-arbítrio é um argumento não dos otimistas, mas dos hipócritas e dos estúpidos, que não conseguem ler o mundo à sua volta. Assim como na literatura: Montecchios e Capuletos, Klein e Koch, quantos não existiram, quantos ainda não existirão? Quantas vezes um delegado do interior não conversou com a filha de um estrangeiro, em busca de solucionar um caso? Somos arquétipos intemporais, Irineu. O que somos, já o foram muitas vezes, e o serão outras tantas, infinitas..."
Esse é meu destaque favorito no livro que me fez voltar a amar o gênero policial, porque me fez refletir por horas sobre o que vem primeiro, o ovo ou a galinha? Uma história pode se repetir, mas quando foi escrita pela primeira vez? Em algum momento se fez inédita... ainda vou pensar muito e não chegar a conclusão nenhuma, fato! Mas para Juliana a teoria cíclica de Nietzsche é nada menos do que óbvia.

Juliana Klein é casada com Salvador Scaciotto que também é acadêmico e eles tem uma filha, Gabriela Klein Scaciotto, que sofre todas as consequências de ver sua família sendo dizimada e com a possibilidade assente de ser a próxima vítima, ao passo que Irineu se sente responsável por mantê-la a salvo, o que, de uma forma surpreendente, é o que acaba acontecendo.

Que Fim Levou Juliana Klein, afinal de contas? Esse trabalho praticamente hercúleo de Irineu não chega ao fim com a última página. O autor inova no epílogo, mostrando aos leitores três hipóteses sobre o que pode ter acontecido com a personagem que leva o nome da obra. (E aqui me pergunto: seria possível ainda um outro fim?)

Esse livro conquistou meu coração com seus personagens fortes e intrigantes, me deixando com vontade de os conhecer ainda mais profundamente; com sua narrativa intensa, repleta de indagações, surpresas, revelações e reviravoltas, e ao mesmo tempo, fluida e coerente.

Minha leitura levou três dias, foi uma sensação de compulsividade, devorando as letras com os olhos, pois o gênero policial que eu tanto amo, com toda minha devoção ao Sir Arthur Conan Doyle, à preciosa Agatha Christie e ao genial Sidney Sheldon, foi muito bem representado por esse autor que escreve divinamente e que não tem nada de promessa da literatura nacional, só realidade.

Classificação DNA

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8 comentários:

  1. Oi,Cilene! Tudo bem?

    Puxa que resenha incrível! Gostei demais!
    Tú escreve muito bem, mulher! :)

    Beijos!
    Irmãos Livreiros

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    Respostas
    1. Puxa, muito obrigada Daniel Moraes !!!
      Fico honrada com sua opinião aqui no blog e espero que goste também das minhas próximas publicações.
      E críticas também são bem-vindas.
      Beijos

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  2. Ci, você é perfeita!!!! ♡♥♡♥·

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  3. Oi miga nossa fico incrivel!!!
    Parabéns

    Bjosss

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    Respostas
    1. Valeu Aninha!! Obrigada por prestigiar!!! Beijos

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  4. Que incrível, amei a resenha! Estou super interessada no livro depois disso haha

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    Respostas
    1. Oba!!!! Recomendo mesmo Millena ;D
      Obrigada por nos visitar, seja sempre bem-vinda! Beijos
      Cy

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